1964-2014: 50 ANOS DE ARTE CONTRA O
ESTADO
Formato: Postal 10x15cm
Técnica: Livre
Enviar para:
Coletivo 308
a/c Alexandre G Vilas Boas
Caixa Postal 1004
Guarulhos/SP
07051-970 BRASIL
Ecatú Ateliê
Caixa Postal 082
Olinda/PE
53120-970 BRASIL
http://artecontraoestado.blogspot.com/
Formato: Postal 10x15cm
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Em
2014 completaremos 50 anos do terrível golpe contra a democracia em nosso país.
Paralelo ao golpe no Brasil, outros países da América Latina conviveram com
situação semelhante. Enquanto os governos traíam seu povo e rendiam-se aos
planos de expansão norte-americanos, colaborando e estreitando relações com o
império capitalista, estimam-se que tenham ocorrido em torno de 100 mil
assassinatos e possivelmente 400 mil casos de tortura relatados em toda a
região da América Latina.
Durante
este período que vai entre o início dos anos 60 a meados dos anos 80, os
cidadãos brasileiros começam a sofrer a cassação dos direitos políticos;
crescente desarticulação de movimentos sociais; perseguições políticas;
prisões arbitrárias; exílios e até mesmo desaparecimento de pessoas.
Não
para por aí! A situação se recrudesce e começam os assassinatos; o cerceamento
da imprensa; a ocultação de documentos oficiais e uma campanha nacionalista e
mentirosa visando ocultar os acontecimentos ocorridos nos porões da ditadura,
restringindo e silenciando a qualquer custo toda forma de oposição a barbárie.
Os
abusos eram cometidos em nome de uma pretensa manutenção da ordem; uma guerra
declarada a toda e qualquer tendência política que buscasse alternativas ao já
viciado sistema político que mantinha o Brasil em uma situação patética; de
joelhos, servil, apoiada por instituições conservadoras, tradicionalistas e
incompatíveis com a imagem tão propalada pelos governos militares.
Neste
contexto, as resistências atreladas às suas narrativas, sempre presentes em
nossa história desde o Brasil colônia, ressurgiram para fazer frente aos
tiranos e como resposta ao abismo que estávamos sendo conduzidos. Em todas as
áreas da cultura tivemos expoentes desta resistência de grande valor. A Bossa
Nova e os Concretistas, anos antes, serviram de lastro para o surgimento da
Tropicália; o Cinema novo aparece de forma arrebatadora e sofre com a censura
que logo se estabelece.
Artistas impossibilitados de trabalhar em sua áreas e com o que de melhor faziam, entenderam o problema e migraram dos seus territorios comuns, buscando de forma nem sempre consciente, mas com o devido senso e intuição muito acurada, a experimentação, a fusão das linguagens, o hibridismo, que não só confundia o inimigo, como também, de certa forma, buscava encontrar novos caminhos. Não se tratava apenas de produzir algo esteticamente novo, mas, abalar as formas de abordagem e estruturas do pensamento pequeno-burguês, estabelecidas desde a sociedade colonial e que ainda insistiam em permanecer.
O tecnicismo apregoado pelos governos autoritários começava a fazer água e seu projeto de dominação provava do próprio veneno. Em uma espécide de procedimento Oswaldiano revisitado, os artistas começaram a utilizar as armas do sistema. Tudo era matéria. As linguagens se transformaram e se hibridizaram. Surgiu a video-art; a body-art; o minimalismo; as performances e happenings; o Fluxus; as intervenções nos espaços, seja através da Land-Art ou da arte urbana; e a não menos importante: arte postal.
Artistas impossibilitados de trabalhar em sua áreas e com o que de melhor faziam, entenderam o problema e migraram dos seus territorios comuns, buscando de forma nem sempre consciente, mas com o devido senso e intuição muito acurada, a experimentação, a fusão das linguagens, o hibridismo, que não só confundia o inimigo, como também, de certa forma, buscava encontrar novos caminhos. Não se tratava apenas de produzir algo esteticamente novo, mas, abalar as formas de abordagem e estruturas do pensamento pequeno-burguês, estabelecidas desde a sociedade colonial e que ainda insistiam em permanecer.
O tecnicismo apregoado pelos governos autoritários começava a fazer água e seu projeto de dominação provava do próprio veneno. Em uma espécide de procedimento Oswaldiano revisitado, os artistas começaram a utilizar as armas do sistema. Tudo era matéria. As linguagens se transformaram e se hibridizaram. Surgiu a video-art; a body-art; o minimalismo; as performances e happenings; o Fluxus; as intervenções nos espaços, seja através da Land-Art ou da arte urbana; e a não menos importante: arte postal.
De
caráter extremamente simples, porém, de extremo poder para a difusão de idéias,
a arte postal driblava os censores, atravessava as fronteiras e ampliava os
ecos de dor dos porões da ditadura. Antecipava o advento da internet, redes de
criação e o uso das novas mídias no que hoje denominamos "rede sociais"
. Neste sentido, vimos nascer na América Latina como um todo, inclusive no
Brasil, trabalhos de valiosa grandeza, que nada tem de panfletários, mas, que
carregavam em sua gênese, a marca da combatividade e da resistência poética,
sem que para isto fosse necessário um só ato de violência.
O alcance da rede não tinha como ser assimilado pelos verdugos da ditadura. A construção de significados simbólicos,que se deu a partir disto, quando estudado hoje, é inimaginável para os padrões da época. Alcançaram todo o mundo ocidental e parte do Oriente em trabalhos colaborativos e de work in progress.
O alcance da rede não tinha como ser assimilado pelos verdugos da ditadura. A construção de significados simbólicos,que se deu a partir disto, quando estudado hoje, é inimaginável para os padrões da época. Alcançaram todo o mundo ocidental e parte do Oriente em trabalhos colaborativos e de work in progress.
Artistas
abriram mão de seu lugar comum e ofereceram-se ao sacrifício, ao
risco, até mesmo de vida, abdicando das rançosas idéias a que a sociedade
estava habituada; colocando seu trabalho contra a idéia do estado, quando este
age de maneira criminosa.
A arte de resistência neste momento histórico, alcançou uma força poética poderosa, saindo dos esperados padrões burgueses e do simples arremedo farsesco que alguns outros dispuseram-se, naquele momento,a produzir apenas para a indústria do entretenimento.
Existir e opinar já era o suficiente para ser tratado como um criminoso.
A arte de resistência neste momento histórico, alcançou uma força poética poderosa, saindo dos esperados padrões burgueses e do simples arremedo farsesco que alguns outros dispuseram-se, naquele momento,a produzir apenas para a indústria do entretenimento.
Existir e opinar já era o suficiente para ser tratado como um criminoso.
É
neste ponto que surge entre nós a inevitável idéia sobre o artista contra o
estado autoritário. Depois dos anos de chumbo, com as eleições diretas e a
gradativa consolidação da democracia, nos espanta que observemos ainda, a
violência e o constrangimento com que o estado e as instituições, de forma
pungente tratam as diferenças de opinião.
Podemos
perceber a tentativa do controle através de outras formas mais sutis,
mais adocicadas, disfarçadas de entretenimento e diluídos na idéia do
artista bem sucedido, respeitado, que faz sua arte para a massa, de maneira a
atingir a maioria sem grandes esforços, ainda que para isto, abra mão de sua
poética e da construção de significados que isto possa representar. A
esterilização das poéticas através de projetos duvidosos e de chapa branca,
apoiados por tendência da moda ou por instituições benevolentes que utilizam de
seus trabalhos para ampliar a sua marca. Feito isto e esvaziado o trabalho,
caem no ostracismo.
O
ano de 2013 foi emblemático, neste sentido, por demonstrar claramente como o
Estado é ainda truculento, despreparado e ineficiente quando se dá frente com
as questões básicas e necessárias da população.
A
tolerância com os protestos por parte do estado brasileiro ficou demonstrada: é
zero. O caso mais emblemático é o desaparecimento e assassinato do pedreiro
Amarildo, que ironicamente, não participara da manifestação. A manifestação
serviu de pano de fundo, para policiais corruptos fazerem o que já queriam ter
feito antes. Sumiu após ser chamado à uma Unidade de Polícia Pacificadora em
seu bairro, Rocinha - Rio de Janeiro. Seu caso, assim como o de muitos outros,
é ampliado e nos propõe desafios, exatamente por estarmos vivendo em uma
democracia consolidada. Será verdade ou caminhamos ainda em terreno frágil ?
A
pergunta que nos toca, entre tantas, é: onde estão os artistas? Abriram mão de
seu direito (e dever) de posicionarem-se e de ocupar o espaço ? Estariam
embriagados pelo “sucesso” fácil das redes; de sua egolatria e dos quinze
minutos de fama que Warhol profetizava?
A
tecnologia, esta poderosa arma de construção de novas realidades e narrativas,
está aí, a nosso dispor! Traz consigo, as ambivalências, subjetividades e toda
a complexidade ideológica do meio para qual foi criada. E este, mais uma vez, é
o desafio a que os artistas, ativistas e pessoas que se apropriam dos meios de
produção de forma legítima, verdadeira, deverão entre tantos outros cenários
possíveis, enfrentar: desorganizar as configurações de dominação pré-existentes
já formatadas pelas nova tecnologias e descobrir outras possibilidades de
construção das realidades.
A
tecnologia, em absoluto, não é o inimigo! Não fosse a rede você não estaria
lendo isto agora. Provavelmente nem nos conheceríamos.
Diante
deste panorama apresentado, convidamos os artistas e não artistas de todo o
mundo para enviar trabalhos postais em qualquer técnica, material ou suporte,
com dimensões 10x15cm e que tenham como tema principal a idéia de arte como
resistência, contra a repressão e a ditadura; (r)existência poética a toda
forma de morte imposta pelo poder institucional; arte que se levanta em favor
da vida e da livre expressão; todos os subtemas que possam abrir reflexões
sobre os 50 anos passados do golpe que marcou nosso país e nossas novas
gerações. Para que não nos esqueçamos e mais ainda, para que possamos construir
novas utopias possíveis.
Esperamos
seu trabalho! Abraços fortes, arte e vida sempre!
por
Alexandre Gomes Vilas Boas, Dudu Gomes, Lara Leal e Sérgio Augusto
• C O N V O C A T Ó R I A D E A R T E P O S T A L •
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